Uma outra visão




Sentei-me por momentos em plena calçada da Avenida, sentia-me estranha, sem forças para completar o meu percurso, parecia que os músculos das pernas prendiam e rapidamente obrigaram-me a ficar estática diante da passadeira mais movimentada da cidade numa tarde linda de Verão. Todos os cidadãos correram em meu auxílio, entendendo inúmeras mãos desconhecidas para me ajudarem a atravessar os metros que restavam. Aí, quando olhava em volta de tantas mãos solidárias, reconheci uma, reconheci a Tua … segui a trajetória do teu braço e ficamos pálidos com os olhos fixos um no outro. Passado tanto tempo, tantas discussões, tantos virar costas, tantas palavras arranhadas entre os dentes, tantos ‘‘não (s) ‘‘ tantos diz que disse e estavas ali. Não quis acreditar, esfreguei meus olhos já lavados em lágrimas e tirei as teimas de que realmente não era mais um simples desconhecido. Eras tu que estavas ali, depois de tudo estavas naquele preciso momento, sem pensar no ontem a ajudar-me a levantar, a segurar minha mão sem questionares o que quer que seja. Por momentos parecia que nos tínhamos apoderado da cidade, parecia que mais ninguém estava à nossa volta a não sermos nós. Agarrei tua mão e em segundos estavas-me a abraçar, deste-me um beijo na testa e disseste, sorrindo: “ Eu ajudo-te”.

Após aquela alongada pausa de silêncio, agradeci com um sorriso doce e deixei que o meu corpo se chegasse ao dele e seguimos, percebi naqueles perfeitos segundos que com Ele teria forças de seguir o meu caminho mesmo que o corpo se manifestasse com dores insuportáveis. Olhamos em frente, tínhamos uma escada mesmo diante de nós e a perna esquerda teimava em não querer ajudar na caminhada, parecia pedra e eu continuando abraçada a ti pedi para que me ajudasses só mais uma vez e tu com esse sorriso rasgado prenunciaste com todas as silabas “S-E-M-P-R-E”… Tudo fez sentido despois dessa palavra e ao atravessar aquele pequeno grande obstáculo arquitetónico, cheguei a minha cara à dele e sem hesitar beijei-o, não só por forma de agradecimento mas também por amor, amor esse que partiu sem avisar e chegou sem pedir, mas que se mostrou ser dos mais perfeitos e acima de tudo o mais forte …

Depois desse dia nunca mais nos separamos, decidimos que íamos juntos seguir o mesmo caminho, independentemente dos obstáculos que teríamos de ultrapassar, das dores que teríamos de suportar, das lágrimas que teríamos de deitar. E foi aí que descobrimos o sentido da palavra amor!


Quando menos se espera a felicidade te dá a mão, acredita no amanhã : )


Próxima paragem: Céu .

O ser humano preocupa-se demasiado com que quer ter amanhã, com aquilo que o outro conseguiu conquistar e que ele também (ruido de inveja) queria, com a viagem que quer fazer, com o que quer comprar sem pensar em mais nada. A vida é muito mais que “isso”, a vida vai para além do materialismo, da inveja, do egoísmo, do próprio umbigo. O complicado e por vezes impossível é transpor isso para a nossa rotina, para a nossa realidade, é fácil falar e mais fácil ainda apontar o dedo mas o que é certo, é que mudar o amanhã poucos estão dispostos a fazer e ir contra a sociedade é quase impraticável. Por isso deixei o telemóvel em casa, fechei a porta e arrumei as chaves no porta-luvas do meu carro já em estado de degradação e estacionei-o bem longe do local onde me encontro, percebi que não precisava de nada “daquilo” para agora estar em ligação com a Vida. Encontrei um jardim ao fundo da rua e vi que era ali que podia tirar as conclusões que já à muito ansiava e sem ter tempo para olhar à minha volta, tirei os sapatos e deitei-me relaxadamente (…)
Deixei-me “entrar” por entre as cores azuladas do céu e vagueei numa viagem sem hora de regresso. Pôs-me a pensar em tudo o que não é visível e a dar asas à minha imaginação como seria o outro lado, o lado que ninguém pode ir lá, ver como é, e vir-me contar a sua (nova) “experiência”. O lado fantasmagórico da questão! Noto que tudo o que tenho, tudo o que conquistei e virei a conquistar, todos os meus luxos e privilégios não virão comigo. Tudo ficará, possivelmente, nos mesmos sítios que hoje estão para que alguém se lembre de usar ou de espreitar. Não teremos nada nem ninguém, será como um começar de novo (ou então não), pode ser simplesmente uma continuação do hoje só que com regras diferentes (ou então não). É certamente uma incógnita (?).
Cheguei à conclusão que perdemos demasiado tempo a decifrar o incompreensível e enquanto isso alguém apanhou o autocarro que não tem mais regresso, alguém foi e já não volta mais, alguém que foi amado e desejado, rejeitado e gozado que partiu sem ter data marcada. Enquanto choro por entre frases lembro-me que alguém Meu também já apanhou esse autocarro, alguém que me fez ser melhor pessoa, me ensinou a respeitar, a sorrir e a amar nos momentos certos, a ralhar e a aplaudir nas fases mais delicadas de um ser humano. Hoje só me resta recordar diante de retratos já corroídos do sol e agradecer por me ter posto no seu caminho mesmo que curto aos nossos olhos. 
Agora, enquanto meu corpo se aconchega contra um jardim público imagino como Ele estará, como será lá a “vida”, se tudo o que faço em Terra tem “pozinhos mágicos” dele, se…, se…   
(…) Fui interrompida novamente pelas lágrimas que rasgam um sorriso, uma liberdade enorme apodera-se de mim … Fecho os olhos por segundos enquanto a melodia dos pássaros entoa na minha cabeça e digo para mim mesma: mesmo que longe, estas bem perto porque enquanto sentimos, vivemos.


 A essência da vida é vive-la (pensa nisso) …

A chama um dia acaba!





Percebi ontem o que o amanhã não será mais igual, que me usaste e deitas-te fora como se de um cigarro se trata-se.  De muitas (os) me escolheste, “gozas-te” cada momento como se do último se trata-se e quando a chama desaparecia eras o primeiro a acende-la por vezes infinitas até que chegou ao fim, não dava mais para continuar a lutar pela chama porque tudo o que começa também acaba e foi aí, nesse preciso momento enquanto falavas com os teus amigos e dizias tu que trocavam experiências que te cansas-te de segurar no inútil, que me disseste que a chama já se tinha apagado e já não havia maneira de voltar a acende-la, que mais valia acabar ali o mundo que juntos criamos. Disseste com aquele tom de voz meloso que as cores vivas e alegres deram lugar a cores sem brilho, querias simplesmente que eu fosse feliz, dizias todos os dias para eu lutar sempre pelo que queria e nunca desistir dos meus sonhos mesmo que fosses contra algo, mesmo que isso impedisse de estarmos todos os dias juntos, de adormecemos à sexta-feira à noite a ver um filme, de irmos ver o pôr-do-sol abraçados com os pés enterrados na areia.
 (Mas) o que é certo é que era contigo que eu era feliz, era ao teu lado que eu conseguia lutar que nem guerreira, era ao teu lado que tudo tinha cor e sem hesitar abracei-te enquanto a lágrima terminava seu percurso desaparecendo no teu ombro. Mesmo não querendo estar lúcida sabia que o que estavas a dizer era verdade, que se calhar ia ser a ultima vez que os nossos corpos iam estar a esta distância e foi aí que me disseste ao ouvido “Eu amo-te”. Nesse preciso momento tudo se tornou uma incógnita, recuei um passo e sobre os olhos cheios de lágrimas perguntei “porquê?”, porque queres terminar tudo ainda me amando, porque não voltamos a acender a chama do nosso amor, porque, porque … Tantas perguntas que tu decidiste virar costas, sem estar minimamente interessado em mim, em nós.
Segui sem rumo, sem pensar que estava prestes a chover e que eu estava ali cheia de frio já sobre a escuridão de um domingo de Inverno, andei por caminhos já conhecidos mas que naquela altura não sabia que rumo iam ter, simplesmente andava até que tivesse de mudar para outra rua e voltar a percorre-la do início ao fim e aí percebi que andava em círculos, as ruas iam todas dar ao mesmo sítio, ao sítio do adeus. Cansada e já a chuva fria batendo-me na cara, sentei-me sobre o passeio e tirei da mala um cigarro, procurei lume para o acender, revirei tantas vezes a mala à procura que acabei por a romper e foi aí, no silêncio abafado sobre a luz do candeeiro, que percebi que a chama que me faltava eras Tu.



O que hoje se apagou, amanhã pode voltar a acender. Basta querer!